Criptomania: 2 anos e 4 meses depois

No dia 13 de Novembro de 2021 publiquei post intitulado “Criptomania“. Por acaso, coincidiu com o anterior topo da cotação da criptomoeda Bitcoin. No ano seguinte, mais precisamente a 14 de Novembro de 2022, o novo post (“Criptomania: um ano depois“) coincidiu com o anterior fundo daquela moeda.

Alguns dias atrás, naquele segundo post, um leitor escreveu o seguinte:

Então como anda o Bitcoin um ano e quase 4 meses após este texto?

Resposta: Bitcoin anda bem. Muito bem! A cotação da Bitcoin hoje atingiu os 73.661,60 dólares. Um crescimento de 351,67% em relação à cotação de consulta bo post de Novembro de 2022.

Esta subida exponencial altera a minha opinião? Não! Pelo contrário, reforça a crença de que se trata de uma bolha especulativa, que denominei de “criptomania”, à semelhança da “tulipa mania” do século 17.

O que, nestes 2 anos e 4 meses, mudou da utilidade da Bitcoin? Nada!!! Continua a ser usada quase exclusivamente como instrumento especulativo. Por exemplo, em El Salvador, país que adoptou a Bitcoin como moeda oficial, o seu uso com este fim é muito escasso.

Até tentativas publicitárias em Portugal para popularizar a Bitcoin como moeda, com a venda de um (1) apartamento, saíram frustradas, apesar da esperança de novo futuro. Cito noticia de 5 de Maio de 2022:

ACREDITAMOS QUE SE ABRE HOJE UM NOVO MUNDO DE POSSÍVEIS NEGÓCIOS NO SETOR IMOBILIÁRIO

Bolhas especulativas rebentam. Sempre! E quanto mais “enchem”, maior será o estrondo.

Certamente haverá muitos dos leitores com opinião contrária. Queiram esclarecer-me nos comentários porque, desta vez, será diferente.

17 pensamentos sobre “Criptomania: 2 anos e 4 meses depois

  1. bordalix

    Certamente haverá muitos dos leitores com opinião contrária. Queiram esclarecer-me nos comentários porque, desta vez, será diferente.

    Não me irei repetir, os meus (longos) comentários no post anterior mantêm-se actuais.

  2. bordalix

    Vou só adicionar isto:

    Nós ocidentais vivemos numa democracia, em paz, debaixo de uma moeda “forte” e com acesso a um sistema bancário universal e a dinheiro digital.

    Por conseguinte, temos dificuldade em entender a utilidade do Bitcoin, pelo que recorremos à explicação mais simples: é uma bolha.

    Acontece que apenas 1 em cada 8 pessoas no mundo tem acesso a este privilégio financeiro. Para as outras 7, o Bitcoin resolve.

    Alguns exemplos para ilustrar o tópico:

    Ucraniano foge da guerra com as poupanças numa drive USB.

    https://www.cnbc.com/2022/03/23/ukrainian-flees-to-poland-with-2000-in-bitcoin-on-usb-drive.html

    Nigéria, governo brinca com o dinheiro das pessoas: força a mudança para novas notas, mas não produz novas notas suficientes.

    https://www.forbes.com/sites/abubakarnurkhalil/2023/03/01/nigerian-election-and-naira-crisis-is-fueling-bitcoin-adoption/

    6 em cada 10 Marroquinos não tem acesso a uma conta bancária.

    https://www.statista.com/statistics/1246963/unbanked-population-in-selected-countries/

    Inflação na Argentina passa os 200%

    https://tradingeconomics.com/argentina/inflation-cpi

    No Líbano as remessas do exterior representam 36% do PIB. Receber $200 custa em média $12 (6.2%), isto sem falar do roubo que são as taxas de câmbio “oficiais”.

    https://www.worldbank.org/en/news/press-release/2023/06/13/remittances-remain-resilient-likely-to-slow

    Dissidentes políticos por esse mundo fora confiam no Bitcoin para poderem ser financiados e não verem os seus fundos confiscados pelo governo.

    https://www.forbes.com/sites/rogerhuang/2020/10/19/dissidents-are-turning-to-cryptocurrency-as-protests-mount-around-the-world/

    Para todos eles, o Bitcoin representa liberdade. Só os que não a têm é que compreendem isto.

  3. Guillaume Tell

    De antemãor, felicito-o por ter tido a coragem de responder ao meu comentário e dar alguma vida a um blogue que se tornou – infelizmente – num cemitério.

    Pelo seu texto e tendo em conta os factos que o próprio BZ apresentou, a sua opinião está plasmada no mármore, de maneira que o que direi a seguir para o contradizer passará, muito provavelmente, por um ataque ou uma provocação. E vou ser honesto, o meu comentário que originou este texto não passava de isso.

    Apenas espero que não se limitem ao aspecto polémico do que vou dizer porque, apesar de tudo, apresento argumentos de fundo. Para algo de mais técnico e fundamentado, reenvio para os comentários do bordalix.

    Em primeiro lugar, convém recordar que o Bitcoin existe desde 2009. Estamos a falar de um produto velho de 15 anos. Bolhas especulativas velhas de 15 anos é algo de, muito provavelmente, inédito.

    Em segundo lugar, sempre que o Bitcoin corrigiu as suas fortes subidas, ele nunca desceu para níveis inferiores ao período anterior à subida brusca. Ou seja, o crescimento é contínuo apesar dos altos e baixos pontuais.

    O ouro também sofreu movimentos similares desde o fim de Bretton Woods, não tão extremos claro, mas tem o mesmo padrão de crescimento sobre o longo prazo. E, que eu saiba, não é tratado como uma bolha.

    O que me leva à questão da utilidade. De antemão, acho triste ter de recordar um princípio básico num blogue liberal que é a subjectividade do valor. A utilidade dos bens e serviços é dada, em larga medida, pelos consumidores, não existe per se como os marxistas tanto gostam de propagandear.

    Para exemplificar, a água será o bem mais útil que existe a priori. Mas durante uma cheia será o bem mais inútil que alguém se possa lembrar de vender.

    O ouro também não tem especial utilidade se formos a ver. Permite construir algumas ferramentas mas stricto sensu (e insisto, stricto sensu) não tem grande utilidade. Mencionei o exemplo da água para ilustrar essa questão.

    Diga-se de passagem que pode existir uma moeda baseada em água, se existiram os petrodólares nada proíbe de fazer o mesmo, como nada impede de determinar que o quer que seja sirve de moeda ; existe inclusive um episódio dos Teen Titans Go! que aborda esse tema de maneira divertida, em que a moeda passam a ser abelhas.

    Mas para voltar à questão da utilidade do Bitcoin, apesar do BZ insistir que ela não existe, ela existe. Estamos a falar de um produto que, em princípio, apenas pode ser acessível pelo seu dono e em qualquer lado no Mundo desde que haja Internet.

    Esta é uma enorme vantagem do Bitcoin face ao ouro, é que é possível fugir para qualquer sítio sem ter de carregar com o ouro. E isto tem uma enorme vantagem.

    Para quem acha que o facto de fugir é um risco diminuto, que pense no que se passou na Ucrânia para rever o seu julgamento.

    Finalmente, o problema do BZ como de muitos críticos do Bitcoin é de analizarem este produto apenas no curto prazo. Basta ver que o BZ limitou todos os seus textos a apresentar a cotação do Bitcoin no curto prazo (um ano é curto prazo, se consideram que não, não se admirem viverem em economias que não crescem e especulativas) e não desde o seu nascimento.

    A principal vantagem do Bitcoin é precisamente de oferecer uma protecção a longo prazo. O Bitcoin é chamado para ser um concorrente ao ouro, um concorrente melhor em termos de transporte e acessibilidade como o mencionei.

    Em todo caso, espero que o BZ não leve a mal as minhas provocações.

    Atenciosamente,
    Guillaume Tell

  4. Guillaume Tell, obrigado pelos comentários. Noto que a cotação de Bitcoin tem forte correlação com o mercado bolsista mais especulativo (NASDAQ). E, na minha opinião, desde 2009, com a massiva emissão de moeda, este mercado (incluindo o S&P 500) está numa bolha especulativa há 15 anos.

  5. Guillaume Tell

    PS 2 : outras utilidades do Bitcoin são mencionadas em detalhe pelo bordalix. Isto é, o número de Bitcoin é fixo (não há risco de inflação, ao contrário das moedas fiduciárias) e o sistema que o mantém é descentralizado (a contrapor, mais uma vez, com as moedas fiduciárias que são controladas pelos bancos centrais que podem fazer o que bem lhes apetecer).

    Umas breves nota sobre o consumo energético, para já o custo das energias renováveis tem vindo a baixar – o que torna a questão irrevelante per se – e os mineradores tendem precisamente a se instalar perto das fontes de energia ; mineradores instalaram-se na Icelândia precisamente para beneficiarem das energias hidro e termo electricas, abundantes na ilha.

    Igualmente, quem tentar criar comparações sobre o custo energético do Bitcoin – como pude testemunha na comunicação social – tem de se recordar a que este serve. Falamos de um sistema de pagamento mundial, obviamente que vai exigir muita energia.

    Já agora, em quanto anda o custo energético das moedas fiduciárias? A ver se no fim o Bitcoin não será menos guloso por unidade.

  6. bordalix, é verdade que existem muitas pessoas sem acesso a instrumentos financeiros. Mas são cidadãos de países “modernos” quem mais comprou Bitcoin

  7. bordalix

    bordalix, é verdade que existem muitas pessoas sem acesso a instrumentos financeiros. Mas são cidadãos de países “modernos” quem mais comprou Bitcoin

    BZ, verdade, resta entender porquê:

    Segundo o Larry Fink, CEO da Blackrock, a justificação para investir em Bitcoin é o facto de ser uma moeda supra nacional, e o facto de haver imensa gente no mundo (os tais não privilegiados) para os quais o Bitcoin é uma excelente (e talvez a única) opção para reserva de valor.

    Segundo a lógica dele, se o Bitcoin é útil para 7 mil milhões de pessoas, então o “smart” money deve começar a comprar agora, porque vai subir.

    https://twitter.com/TuurDemeester/status/1766567984451977219

    Ou seja, está tudo interligado.

  8. bordalix

    Estamos a falar de um produto que, em princípio, apenas pode ser acessível pelo seu dono e em qualquer lado no Mundo desde que haja Internet.
    Guillaume Tell

    Guillaume Tell, permita-me uma pequena correcção: o Bitcoin funciona mesmo sem Internet.
    Bitcoiners em África inventaram e implementaram o Machankura, um sistema que permite o envio e recebimento de bitcoins usando o sistema de sinalização do GSM, sem recorrer à Internet. Ou seja, um qualquer Nokia 3310 do século passado consegue ter uma carteira Bitcoin e enviar e receber satoshis. É usado por milhões de africanos:
    https://www.forbes.com/sites/digital-assets/2023/03/15/how-africans-are-using-bitcoin-without-internet-access/

    Existe um satélite em órbita que está constantemente a emitir a blockchain do Bitcoin, pelo que qualquer pessoa em qualquer parte do mundo consegue ter a sua cópia do blockchain actualizada e verificar pagamentos:
    https://blockstream.com/satellite/

    Existem também vários projectos de mesh networking por esse mundo fora. Uma mesh network é uma rede peer-to-peer, que pode ou não ter uma saída para a Internet e são praticamente imparáveis:
    https://bitcoinmagazine.com/technical/making-bitcoin-unstoppable-part-one-mesh-nets

  9. lucklucky

    “Certamente haverá muitos dos leitores com opinião contrária. Queiram esclarecer-me nos comentários porque, desta vez, será diferente.”

    Bom regresso.

    Ok, a descredibilização dos governos ocidentais- e quando falo do governos falo também do complexo politico jornalista que os sustem – faz as pessoas encontrarem outros repositórios de valor.

    Outro ponto, aquilo a que damos valor depende da cultura, bitcoin pode representar o ouro para uma cultura digital.

  10. passante

    porque, desta vez, será diferente.

    Meh, é uma questão de consenso. O ouro e a arte também são valiosos por consenso. Fora isso são “bolhas”.

    Se houver gente que chegue a usar seja o que for como armazém de valor, com quantidade e liquidez suficientes – funciona. Se não, não.

    A minha percepção é que há que chegue para o BTC funcionar. Não como moeda, mas também ninguém usa quadros ou ouro como moeda corrente.

  11. bordalix

    Porque diz “não como moeda”? O Bitcoin serve para pagamentos de qualquer valor há anos. Neste twit tem um vídeo dos meus filhos em Esposende a pagarem brinquedos com Bitcoin:

    https://twitter.com/bordalix/status/1554911618043084800

    Eu já paguei restaurantes, já comprei carne e mel e até já paguei uma consulta num dentista com Bitcoin.

    Para uma mapa com os negócios que aceitam Bitcoin perto de si:

    https://btcmap.org/

    PS: reparei agora que o meu comentário anterior encontra-se em moderação há 2 dias. Vamos lá a ver se este passa o lápis azul.

  12. bordalix, o preço dos bens adquiridos estava em Bitcoin ou euros? Podes esclarecer se método de pagamento é efectuado em Bitcoin ou a aplicação converte antes em euros?

  13. bordalix

    BZ, os preços estão em euros, o pagamento é feito em Bitcoins.

    No caso do vídeo dos meus filhos:

    – o brinquedo custava €10
    – o senhor da loja informou a sua wallet que queria receber €10 em Bitcoin
    – a wallet converteu isso para 43379 satoshis (1 BTC = 100 milhões de satoshis)
    – a wallet dele gerou um QRCode com um invoice lightning desse valor
    – a wallet da minha filha reconheceu o QRCode e esperou pela seu ok
    – a wallet da minha filha enviou 43379 satoshis para o senhor da loja
    – o senhor da loja recebeu os satoshis ao fim de alguns segundos

    Algumas notas:
    – eram wallets de fabricantes diferentes, com um câmbio ligeiramente diferente, daí no interface da minha filha aparecer €9.87 em vez de €10
    – a única coisa em euros é o preço inicial, tudo o resto é Bitcoin
    – ao contrário da Visa, a transacção é final, i.e. não é possível reverter
    – ao contrário da Visa, o senhor da loja tem logo os fundos disponíveis
    – ao contrário da Visa, a haver comissões foram de 1 ou 2 satoshis

    Espero ter esclarecido.

    Estou à disposição para qualquer pergunta que queiram fazer.

  14. lucklucky

    Uma notícia interessante

    “The DOJ now engaged in periodic transactions to liquidate this stash of seized Bitcoins. This brings us to the crux of the matter. The DOJ recently moved 30,174.70 Bitcoins – worth around $2 billion – at a transaction cost of just $1.48. The agency then sent 2,000 BTC from this pile to a Coinbase wallet, likely for liquidation purposes.

    Of course, by moving such large values at an extremely low cost, the US government has just inadvertently demonstrated the underlying efficiency of the Bitcoin Network.”

    via: wccftech

  15. JM

    A moeda fiduciária hoje é na prática tão virtual como a cripto moeda, a diferença principal é quem realiza o registo que pode servir de base para emitir uns papéis que alegam valer determinado montante. O ponto importante é, acredito mais num banco central português influenciável por Sócratinos e os Antonios costas que tem como presidentes Centenos e Vítores Constancios, num banco central europeu que tem Constancios, mesmo de pois das provas dadas, ou acredito mais num registo em blockchain? Para mim ficou fácil aderir à cripto.

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