Separar o trigo do joio

 

Luís Naves comentou a minha opinião sobre a imprensa escrita em Portugal, cuidado que agradeço. Comete, no entanto, alguns lapsos e cai em certas contradições quando conclui, a título de exemplo, que desconheço os acontecimentos do meu próprio país, mas ao mesmo tempo reconhece o problema (para os jornais) que é a gratuidade do sites noticiosos. Na verdade, se digo que não compro jornais portugueses há 5 anos, é porque não o preciso de o fazer pois estes se encontram totalmente disponíveis na internet, o que me permite ler o que me interessa. Basicamente, ler aquilo que julgo ser importante para conhecer os acontecimentos do meu próprio bairro. Tudo sem gastar um centavo e ficar inundado em papel com informação que não me interessa.

Chama-se a isto separar o trigo do joio, faculdade que me agrada. Faculdade que desaparecerá caso os conteúdos dos sites noticiosos passem a ser pagos. E aqui chegamos à segunda parte do problema, que é o preço. Vejamos bem: eu pago 30 cêntimos/dia para ter Wall Street Journal. Será que o Público ou o Diário de Notícias conseguirão ser tão baratos? E não o sendo, será que a inevitável redução da publicidade, vendida nesses sites, compensará a natural perda de leitores online, decorrente da cobrança dos seus conteúdos? Não creio que sejam muitos os leitores interessados em pagar para ler notícias que serão divulgadas de forma mais mediática e gratuita. Some-se a falta de tempo para ler jornais diários, como se sucedia há 10/20 anos, e ainda por cima pagando caro por isso.

Quem está, então, disposto a pagar caro pela informação? Apenas parte da população, ainda por cima bastante diferenciada. Uns querem notícias de carácter político; outros, literário; alguns preferem saber de música; outros de design ou arquitectura. Revistas/jornais especializados, com preços relativamente altos, para um público alvo bastante definido. Creio que quanto mais nos globalizamos, menos devemos generalizar e que a persistência no erro pode ser uma das causas para a queda das vendas da imprensa escrita portuguesa.

2 pensamentos sobre “Separar o trigo do joio

  1. luis naves

    Percebo o que o André pretende dizer, mas o ponto é seguinte: se a produção de informação é cara, então o seu custo no consumidor devia ser elevado. Mas é grátis. Não falo da plataforma, isso é o menos, mas da informação em si e do seu custo. O modelo económico personificado em André Abrantes Amaral consumidor de informação não é sustentável. E corremos o risco de sobreviverem apenas algumas empresas, minando a diversidade da indústria, que é também uma das bases da democracia.

  2. Pingback: A crise da imprensa escrita em Portugal « O Insurgente

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